No dia 11 de abril de 1900, três pescadores foram baleados por uma força militar e perderam a vida quando se solidarizavam de forma pacífica com um protesto dos seus camaradas, homens do mar, por melhores rendimentos.
124 anos depois, a grandiosidade, nobreza de caráter e união demonstradas naquele fatídico dia pelos corajosos “lobos-do-mar” e respetivas famílias, passaram a estar imortalizados no novo acesso pedonal ao Porto de Abrigo, ao qual foi atribuído o nome Passadiço 11 de Abril de 1900.
A cerimónia do descerramento da placa atraiu ao local dezenas de pessoas, entre as quais eleitos dos vários órgãos autárquicos, representantes de diversas entidades e pescadores.
«Este equipamento estava planeado pela autarquia há muitos anos, e era visto como uma mais-valia para pescadores e todos os que, até há pouco tempo, tinham de caminhar pela estrada nas deslocações para o Porto de Abrigo. A Câmara Municipal, dada esta feliz coincidência, exatamente, nos 50 anos do 25 de Abril, conseguiu ter este equipamento pronto para hoje homenagearmos quem sofreu essas perdas, incluindo as suas as famílias, mas também todos os pescadores e a comunidade sesimbrense que sempre lutou pelos seus direitos», referiu José Polido, vereador do Pelouro das Pescas, Ruralidade e Apoio ao Empresário.
O elevado simbolismo da cerimónia foi também sublinhado por João Narciso, presidente da Assembleia Municipal, órgão que, em forma de recomendação, sugeriu à Câmara Municipal, a atribuição deste topónimo ao passadiço.
«Se recuarmos à realidade de 1900, ainda em plena monarquia, verificamos que a solidariedade e união dos pescadores estão na origem deste momento. Por isso, entendemos que estavam reunidas as condições para assinalarmos este marco histórico, que tem ainda maior enquadramento neste ano em que se assinalam 50 anos do 25 de Abril», frisou o autarca.
João Narciso vincou ainda que «o significado desta data é por demais importante para ficar assinalada apenas neste equipamento e no dia de hoje, pelo que, o objetivo é voltarmos a lembrá-la em 2025 com conferências e tertúlias que ajudem a mergulhar mais fundo naquilo que foram os acontecimentos de 11 de abril de 1900, e de como seria Sesimbra se os mesmos não tivessem acontecido».
Presente na cerimónia, Odete Graça, coordenadora das comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, enalteceu a iniciativa da Assembleia Municipal. «Independentemente daquilo que a lei confere, há a sensibilidade humana, política e histórica que nos levam a ultrapassar o quadro de uma comemoração para alcançar tudo o resto que é o mais importante», disse, referindo-se à vivência piscatória, tradição ligada ao mar, raízes históricas e familiares de Sesimbra, «que não têm data», vincou, saudando a inclusão da iniciativa nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.