Apresentação da Carta Arqueológica de Sesimbra
Com cerca de 100 hectares, o povoado está associado ao monumento da Roça do Casal do Meio, escavado no início dos anos 70 por Konrad Spindler (o primeiro arqueólogo a estudar o Homem do Gelo ou Ötzi), do Instituto Arqueológico Alemão, e que é uma referência científica em toda a Europa.
Este foi um dos mais relevantes achados feitos pela equipa de arqueólogos, espeleólogos, alunos de belas-artes e de arqueologia das Faculdades de Belas-Artes e de Letras da Universidade de Lisboa, do Centro de Estudos e Actividades Especiais, da Liga para a Protecção da Natureza e do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul, que durante os últimos dois anos e meio percorreram o território do concelho para elaborar a Carta Arqueológica de Sesimbra.
Para além do povoado, as prospecções levaram ainda à descoberta de uma placa de madeira com um texto em árabe, datado de cerca de 1195-1199.
Apesar da tradução do campo epigráfico ainda não estar completa, estudos preliminares de arabistas indicam que estamos perante um escrito de cariz religioso, com referências expressas a Allah, que terá sido escondido numa gruta em altura de grande instabilidade e insegurança militar.
O interesse arqueológico de Sesimbra
O interesse arqueológico pelo território de Sesimbra começou muito cedo, ainda durante o século XIX, através de Carlos Ribeiro, fundador do Museu dos Serviços Geológicos. Mais tarde, na década de 40, passaram por aqui dois grandes vultos da arqueologia, Henry Breuil e George Zbyszewsky.
A partir de 1955, Eduardo da Cunha Serrão desenvolve em Sesimbra um projecto de investigação, com a colaboração de uma equipa de jovens arqueólogos que resulta na primeira Carta Arqueológica do concelho, concluída em 1973 mas publicada apenas em 1994.
Neste momento, com os novos métodos de investigação e as tecnologias disponíveis, a autarquia decidiu, em parceria com um conjunto de entidades, avançar para a nova Carta Arqueológica.
A leitura da ocupação do território
Com o trabalho realizado, e cerca de 350 sítios identificados, é hoje possível entender as estratégias de ocupação do território de Sesimbra nos últimos 40 mil anos.
Para o Paleolítico pode observar-se uma ocupação preferencial ao longo da Costa Sul, enquanto no Mesolítico foi para a Costa Ocidental, na área do Meco. As primeiras comunidades de agricultores do Neolítico procuraram as terras férteis abrigadas da Azoia, Zambujal e terras do Risco.
No Calcolítico (III milénio a.C.), o homem utilizou as grutas para sepultar os seus mortos enquanto que na Idade do Bronze (II milénio a.C.) construiu grandes povoados, como o do Risco, talvez associados a um proto-estado que devia abarcar toda a Serra da Arrábida.
Na Idade do Ferro (I milénio a.C.) escolheu pontos elevados e na época romana (séc I-IV d.C.), na local da actual vila de Sesimbra, construiu fábricas de preparados de peixe. A partir do século VI d.C. a Serra da Arrábida tornou-se lugar místico para monges anacoretas cristãos e, a partir do século VIII, para devotos muçulmanos.
A investigação vai prosseguir aprofundando-se agora cada um dos temas e, sobretudo, procurando um aproveitamento turístico para esta narrativa do homem no concelho de Sesimbra, através da criação de um parque temático.