Danças com história
Designer de moda há mais de 30 anos, Fernanda Cagica já perdeu a conta aos fatos que desenhou e produziu, com as mais variadas formas e cores, e para os mais diversos fins, desde os desfiles de Carnaval a momentos formais. Nos últimos meses, contudo, tem dedicado o seu tempo a elaborar as vestes renascentistas e barrocas utilizadas pelo Grupo de Danças Antigas Condes de Sesimbra, do Centro Comunitário da Quinta do Conde.
A forte componente visual, fundamental para o sucesso de um grupo de recriação histórica, exige um exaustivo trabalho de pesquisa, para que cada fato se mantenha fiel à época, tanto no corte como nos materiais e nas cores. Fernanda começou pelos trajes renascentistas, usados nas primeiras actuações do grupo, no Verão de 2009, e está agora a ultimar as vestes barrocas, que serão utilizadas no Desfile de Carnaval. Apesar da técnica ser semelhante, tanto os tons e os padrões como o corte diferem. Os tecidos que usa para recriar os ambientes de época são também distintos.
Enquanto que para os fatos da renascença opta por damascos, no barroco dá preferência às sedas selvagens, rendas, veludos e bordados, que procuram recriar o ambiente luxuoso da altura. As diferenças entre os dois períodos históricos estão também vincadas na forma de dançar.
A passagem da renascença para o barroco apresenta muitas alterações, sobretudo ao nível dos movimentos, postura, contacto físico e rapidez, o que tem exigido aos 14 adultos e 3 crianças que constituem o grupo um esforço adicional. Leonor Beltrán, professora de dança na Escola Superior de Educação de Lisboa e formanda do mestre italiano Maurício Padovan, acompanha o grupo desde o início e destaca a vontade de trabalhar e evoluir dos elementos. Depois de lhes ter ensinado os primeiros passos das danças renascentistas, com os quais o Condes de Sesimbra fez as primeiras apresentações, Leonor ensaia agora movimento barrocos.
Segundo a formadora, este estilo de dança incide essencialmente sobre a época barroca inglesa do século XVII, muito diferente em género daquilo que se fazia nas cortes francesas. A responsável pela gestão do grupo, Sandra Costa, garante que a experiência está a ser bastante interessante e realça a experiência dos seus elementos nas danças folclóricas, o que lhes tem proporcionado uma maior capacidade de apreensão da técnica e da musicalidade.
Quanto à participação no desfile de Carnaval, Sandra Costa considera que «é uma óptima oportunidade para o grupo se dar a conhecer e conquistar mais mediatismo». O optimismo estende-se à direcção do Centro Comunitário que, depois de ter entrado na “aventura” das danças antigas, numa colaboração com o Rancho Folclórico Humanitário, trabalha agora empenhadamente para dar vida ao primeiro grupo amador de danças barrocas de Portugal.
«É um novo desafio que vamos encarar com vontade e naturalidade», garante Vítor Antunes, presidente da direcção do Centro Comunitário. «A elaboração dos trajes acaba por ser mais dispendiosa mas estamos a tentar conseguir novas parcerias para alimentar o projecto», sublinha.
A primeira apresentação está marcada para 13 de Fevereiro, dia em que a escola de samba Batuque do Conde se apresenta na Quinta do Conde. Nos dias 14 e 16 é a vez da Marginal de Sesimbra receber o grupo.