Exposição As Imagens de Vestir da Antiga Capela de São Sebastião
A exposição As Imagens de Vestir da Antiga Capela de São Sebastião está patente de 7 de março a 12 de abril na Capela do Espírito Santo dos Mareantes. A mostra é composta por cinco imagens de roca - São Francisco, Santo Ivo, Rei Salvador, Santa Rosa e a Rainha Santa Isabel, e dá a conhecer um dos principais cultos da Ordem Terceira de S. Francisco, durante a sua permanência naquele templo, que teria lugar na quarta-feira de cinzas dando início ao período quaresmal.
Construída em 1484, a Capela de São Sebastião é o templo mais antigo da vila de Sesimbra, e surge quando a nova freguesia da Póvoa da Ribeira ainda não estava instituída. A administração da Capela foi efetuada por diversas entidades, nomeadamente pelos irmãos da Ordem Terceira de São Francisco.
Os elementos cultuais existentes à época da extinção da administração da Ordem são descritos em vários inventários, do início do século XX, efetuados para os autos de venda em hasta pública quer da ermida quer dos seus bens. Neles refere-se a existência de elementos que ajudam a refletir sobre os cultos praticados por esta Ordem, entre eles a referência às vestimentas de seda e mantos das imagens e a cinco resplendores.
As imagens seriam vestidas a rigor e seguiriam cada uma no seu andor, em procissão, acompanhadas de anjos (os inventários referem a existência de vestimentas para os mesmos) e na qual se incluiria certamente um grande número de figurantes.
São Francisco, Santo Ivo, Rei Salvador, Santa Rosa e a Rainha Santa Isabel são as referências documentais existentes e que se harmonizam com as cinco imagens de roca que constam do acervo do Museu Municipal de Sesimbra, e que constituem a exposição As Imagens de Vestir da Antiga Capela de São Sebastião.
A abertura da exposição realiza-se no dia 7 de março, sábado, às 15 horas. O momento é assinalado com uma conversa sobre a Imaginária Processional de Vestir nos Séculos XVII a XIX: Tipologias e Conceitos, por Duarte Nuno Chaves, investigador do Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores.
Esta apresentação pretende dar a conhecer a memória histórica e posterior evolução cultural dos cortejos de penitência franciscana, nos arquipélagos dos Açores e Madeira, particularmente através da utilização da denominada “imaginária de vestir”, vulgarmente conhecida como “as imagens de roca”. Esta análise escultórica assenta na observação de dois fenómenos processionais: A Procissão dos Terceiros, na Ribeira Grande, S. Miguel, Açores, e a Procissão das Cinzas, em São Bernardino, Câmara de Lobos, Madeira.
Está ainda prevista, no dia 20, sexta, às 21.30 horas, uma sessão da Sesimbra, Memória e Identidade intitulada Os Cultos dos Nossos Avós.
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Construída em 1484, a Capela de São Sebastião é o templo mais antigo da vila de Sesimbra, e surge quando a nova freguesia da Póvoa da Ribeira não estava ainda instituída. Ela marca a fronteira entre uma vila estabelecida no castelo, mas já com uma desocupação acentuada, e uma póvoa, que após anos conturbados vai-se desenvolver económica e socialmente. Foi construída a expensas dos mareantes e mandadores sesimbrenses, os quais contribuíram também para a construção de outras igrejas e para as respetivas manutenções e embelezamentos.
As referências documentais aos bens e às atividades cultuais da Capela de São Sebastião são parcas e avulsas. A visitação de 1516 refere-se ao costume do povo mandar dizer uma missa cantada todos os anos pelo dia de São Sebastião, a qual seria paga pelas suas esmolas. A de 1553 menciona o facto de o templo ser desprovido de prata e ornamentos.
A administração da Capela foi efetuada por diversas entidades1, nomeadamente pelos irmãos da Ordem Terceira de S. Francisco. Desconhece-se o início da sua atividade. Tê-la-ão gerido até 1875, data a partir da qual se inicia o processo de extinção da irmandade. De acordo com os estatutos, a Ordem deveria ser constituída por 18 irmãos, com eleição regular da mesa.
Um edital do Administrador do Concelho refere que estes critérios não estavam a ser cumpridos visto que a irmandade não possuía o número suficiente de confrades para eleger mesa. Propunha então que todos os irmãos, no prazo de 15 dias, contados a partir da data do edital comparecessem na secretaria para assinarem o termo de continuidade da administração2. Tal não viria a acontecer e a extinção da administração da Ordem Terceira teria lugar em dezembro de 18763. Um ofício de 21 de janeiro de 1877 refere que “os bens da Ordem Terceira que por haver sido extinta, passaram por depósito para o poder da junta de Parochia de S. Thiago4.”
Os elementos cultuais existentes à época da extinção, alguns deles por tradição usados nas procissões da Ordem Terceira de S. Francisco, são-nos descritos em vários inventários, do início do século XX, efetuados para os autos de venda em hasta pública quer da ermida quer dos seus bens. Neles refere-se a existência de elementos que ajudam a refletir sobre os cultos praticados por esta Ordem.
Entre eles destacam-se 16 lanternas de pau-santo com remates de metal amarelo; uma pálio de damasco roxo; sete andores de madeira; duas insígnias das procissões da Ordem Terceira, com a representação do Sol e da Lua e algumas imagens. Destas salienta-se a de S. Sebastião, a de Nossa Senhora da Conceição, um crucifixo grande, duas imagens de S. Francisco, uma de Santa Ana, uma de Santo António e cinco imagens de roca, devidamente identificadas: S. Francisco de joelhos, Santo Ivo, Rei Salvador, Santa Rosa e Rainha Santa Isabel, com referência às vestimentas de seda e mantos dessas mesmas imagens e a cinco resplendores. Além destes será de referir o Santo Lenho e um relicário.
São elementos representativos do movimento franciscano em Sesimbra, sendo que as entidades que representam caraterizam os cultos inerentes ao início das celebrações da Quaresma, nomeadamente a procissão de Quarta-feira de Cinzas, que se realiza logo a seguir à Terça-feira de Carnaval, e que ainda têm lugar em muitas regiões, quer no continente quer nas regiões autónomas. As imagens seriam vestidas a rigor para o efeito cultual. Seguiriam cada uma nos seus andores, em procissão, acompanhadas de anjos (os inventários referem a existência de vestimentas para os mesmos) e na qual se incluiria certamente um grande número de figurantes.
São Francisco, Santo Ivo, Rei Salvador, Santa Rosa e a Rainha Santa Isabel são as referências documentais existentes e que se harmonizam com as cinco imagens de roca que constam do acervo do Museu Municipal de Sesimbra, e que constituem a exposição temporária As imagens de vestir da antiga Capela de S. Sebastião. Desconhece-se, para já, as suas localizações nas procissões efetuadas pela Ordem Terceira de S. Francisco. Se tivermos em linha de conta as celebrações realizadas noutros locais, estas imagens seguiriam sequencialmente em procissão, obedecendo certamente a um estrutura bem definida e delineada.
Em 1729 a administração cabia aos oficiais da Câmara. Em 1739, a administração seria já efetuada pela Corporação Marítima do Espírito Santo que a manteve até 1784, quando cede os direitos de padroado, reservando-se no entanto o direito de celebrar os cultos obrigatórios dos marítimos sesimbrenses. (AMS, ERM Livro de Visitação da Igreja de Santiago anos 1666-1773, p. 26v e 35v; MONTEIRO, Rafael, A Festa das Chagas, os painéis de Nuno Gonçalves e outros temas, Coleção Livros de Sesimbra, Câmara Municipal de Sesimbra, Maio de 2002, p. 36)
AMS, FAC Livro Registo de Correspondência Expedida, 1876/1879, p. 1v.
Biblioteca Municipal de Sesimbra, Fundo Reis Marques, Junta da Paróquia de Santiago, dezembro 1891
AMS, FAC Livro Registo de Correspondência Expedida, 1876/1879, p. 12v.