25 Anos da Classificação dos Monumentos Naturais de Sesimbra
Em agosto de 1971, quando Luiz Saldanha desenvolvia o seu doutoramento sobre a fauna da costa da Arrábida, os pescadores e apanhadores de algas da praia dos Lagosteiros levaram o investigador a conhecer a Pedra da Mua e as evidências do milagre da Senhora do Cabo, que hoje conhecemos como a jazida de pegadas de dinossauros. Fascinado com a valor do conjunto de pegadas, pediu a colaboração de Miguel Telles Antunes, professor de ciências geológicas na Universidade de Lisboa, e, durante anos, acompanhados pelas suas famílias, por aqui se mantiveram a estudar este importante achado.
Foi quando procuravam o melhor ângulo para fotografar a Pedra da Mua, que descobriram, por acaso, as pegadas dos Lagosteiros. Em relação à jazida da Pedreira do Avelino, foram os próprios funcionários da pedreira, sabendo da investigação que os dois professores estavam a desenvolver no concelho, que os chamaram ao local e lhes mostraram a laje descoberta durante os trabalhos da empresa.
Mais tarde, durante os anos 90, António Galopim de Carvalho, então diretor do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, soube sensibilizar o poder político, desde as autarquias ao Presidente da República, até conseguir os processos de classificação que protegem atualmente os registos de icnofósseis de Sesimbra.
Em Sesimbra, é possível visitar três dos sete monumentos naturais do país - a Pedreira do Avelino, no Zambujal, e Pedra da Mua e Lagosteiros, no Cabo Espichel, jazidas datadas entre o Jurássico superior e o Cretácico inferior. No dia 7 de maio, serão assinalados os 25 anos da classificação numa cerimónia de homenagem aos professores Luiz Saldanha, a título póstumo, Miguel Telles Antunes e António Galopim de Carvalho, cujos contributos foram decisivos para este momento histórico, que valoriza e dignifica o património natural sesimbrense.
Luiz Saldanha
Foi em agosto de 1971, quando o professor Luiz Saldanha desenvolvia os trabalhos de investigação para o doutoramento sobre a fauna da costa da Arrábida, que os pescadores e apanhadores de algas da praia dos Lagosteiros o levaram, juntamente com o seu tio Eduardo da Cunha Serrão, a conhecer a Pedra da Mua e as suas evidências do milagre da Senhora do Cabo. Luiz Saldanha percebeu que as pegadas de mula tinham afinal sido deixadas por dinossauros, que por ali tinham passado muitos milhões de anos antes. Enquanto biólogo, sabia que o estudo dos trilhos seria limitado, pelo que rapidamente entrou em contacto com o seu colega de Faculdade dedicado à Geologia, Miguel Telles Antunes, e o trouxe para o Cabo. Juntos por cá ficaram a estudar: o professor Telles Antunes as pegadas e o professor Luiz Saldanha a especificidade do mar da Arrábida e as suas inúmeras espécies.
Desde 1965, que o professor Luiz Saldanha defendia a criação de uma reserva marinha na costa da Arrábida. Foi pioneiro no domínio da biologia marinha em Portugal, começou o ensino universitário das disciplinas de biologia marinha e participou em projetos científicos e expedições oceanográficas por todo o mundo, que ilustrava com desenhos a lápis e aguarela.
Em 1998, um ano depois da sua morte, o seu nome é atribuído à primeira reserva marinha em Portugal, na costa da Arrábida: o Parque Marinho Professor Luiz Saldanha.
Miguel Telles Antunes
Miguel Telles Antunes foi o primeiro paleontólogo a deslocar-se a Sesimbra para estudar as pegadas de dinossauros. Começou por identificar e classificar os trilhos da Pedra da Mua, mais tarde descobriu os trilhos dos Lagosteiros e foi a quem chamaram para mostrar a Laje da Pedreira do Avelino. São suas as primeiras publicações sobre dinossauros em Sesimbra.
Vários outros investigadores de todo o mundo o antecederam no estudo geológico do território, mas muitos o seguiram no conhecimento das pegadas. Sabe-se que os trilhos da Pedra da Mua deram início a uma revolução científica na compreensão daqueles misteriosos animais. Pela primeira vez, na Pedra da Mua encontraram-se evidências do seu comportamento gregário (em grupo). Este facto, retira os dinossauros de uma vez por todas da estrita esfera dos répteis e o eco desta descoberta reflete-se no filme Parque Jurássico, de Steven Spielberg, de 1993, que reproduz o comportamento dos animais conforme as pegadas deixadas na Pedra da Mua.
António Galopim de Carvalho
O professor António Galopim de Carvalho envolveu a comunicação social e o poder político na divulgação dos dinossauros em Portugal. Nomeado diretor do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, em 1993, aproveitou a visibilidade do cargo para, como ninguém antes, apaixonar os portugueses pelos dinossauros. Entre exposições, divulgação nos media e contactos que foi construindo com o poder político, comunicou de uma forma sábia os dinossauros. Mostrou ao país que possui uma riqueza patrimonial como poucos. Das suas gravatas com dinossauros até à formulação do conceito de Geomonumento, investiu grande parte do seu tempo, até aos dias de hoje, na valorização e salvaguarda do património geológico e paleontológico nacional.
Através do professor Galopim todos os portugueses ficaram a saber que, há muitos milhões de anos, por aqui passaram dinossauros e começaram a ter orgulho no seu património geológico, que as rochas podem ser monumentos. Pode ter sido um caminho duro, mas esta campanha de divulgação nacional foi fundamental para sensibilizar o poder político, das autarquias ao Presidente da República, para a valorização, conservação e classificação as pegadas de dinossauros. Podia parecer uma quimera no início, mas hoje Portugal tem sete Monumentos Naturais, seis dos quais incluem pegadas, e cujos processos de classificação contaram com a sua colaboração científica. Três desses monumentos encontram-se em Sesimbra e estão conservados, musealizados ou em processo de musealização e são visitáveis de modo autónomo ou em visita acompanhada.
Sábado, 15.30 horas
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