Sesimbra assinalou centenário do naufrágio do Numancia
O centenário do naufrágio da fragata espanhola Numancia, que encalhou junto à Praia do Ouro a 17 de dezembro de 1916, foi assinalado com a conferência Mar de Histórias, no Auditório Conde de Ferreira. A iniciativa foi presidida pela vice-presidente da Câmara Municipal, Felícia Costa, e pela presidente da Assembleia Municipal, Odete Graça, e contou com o contributo do tenente-coronel Alberto Braz, coordenador do projeto Ocean Revival, que promoveu o afundamento de quatro navios de guerra da Armada Portuguesa no Algarve, de Jorge Vaz Freire, do Centro de Investigação Naval (CINAV), que apresentou detalhes sobre os vários barcos naufragados no Bugio e sobre a elaboração da Carta Arqueológica de Cascais, e do comandante Augusto Salgado, também investigador do CINAV, que deu a conhecer as ações do U35 no Algarve, um submarino Imperial alemão, que afundou, em 1917, quatro navios ao largo de Sagres e Lagos.
Segundo Felícia Costa, o Numancia «foi um acontecimento memorável e que continua a fazer parte da memória dos sesimbrenses», acrescentando que «muitas casas da vila ainda têm restos de madeiras e mobiliário do navio». Para a autarca «o Numancia poderá ser um fator de crescimento económico e turístico para o concelho, na medida em que poderá ser uma escola para os mergulhadores que ainda têm receio de enfrentar águas mais profundas». Felícia Costa terminou referindo que este será mais um contributo para «afirmar Sesimbra como um destino de excelência para o mergulho».
Odete Graça felicitou o trabalho desenvolvido e destacou a importância deste tipo de iniciativas para a promoção de Sesimbra, salvaguardando um pedaço importante da história da vila. A presidente da Assembleia Municipal fez ainda questão de falar sobre a história do Auditório Conde de Ferreira, que na altura do naufrágio tinha cerca de 20 anos.
Vanda Pinto, técnica de Turismo da Câmara Municipal, apresentou um pouco da história do Numancia, que chegou a ser o mais importante navio da poderosa armada espanhola, destacando-se por ter sido o primeiro barco blindado a fazer uma viagem de circunavegação e a ter iluminação elétrica, e recordou que «na década de 50 o navio era um autêntico aquário para os mais jovens, onde a vida marinha florescia». Com o passar dos anos e o avanço da tecnologia, o Numancia acabou por se tornar obsoleto.
Em 1912, atracado no porto de Cádis, foi posto à venda e adquirido para sucata por uma empresa de Bilbao. Foi durante a terceira tentativa para fazer a viagem, com a ajuda de rebocadores, até ao porto biscainho, que encalhou em Sesimbra. A guarnição, composta por 32 pessoas, acabou por ser salva pelos serviços da estação local de socorros a náufragos através de um cabo vaivém e ficou para sempre marcada na história da vila de Sesimbra. Pelo esforço e valentia demonstrada durante os salvamentos, o sesimbrense Justino da Silva, patrão-mor do salva-vidas, acabou por ser condecorado pelo Instituto de Socorros a Náufragos.
As comemorações do centenário do naufrágio do Numancia possibilitaram ainda a cerca de uma dezena de mergulhadores conhecer de perto os destroços do navio, que se encontram a apenas três metros de profundidade. Apesar de bastante assoreados, continuam rodeados de vida marinha e a representar um local de atração para quem gosta de mergulhar.