Apresentação da Casa da Água do Cabo Espichel
A poucos dias de formalizar o acordo para aquisição da ala norte do Santuário do Cabo Espichel, a inauguração da Casa da Água, totalmente restaurada pela Câmara Municipal de Sesimbra, foi um momento de grande simbolismo. Trata-se do primeiro edifício do conjunto edificado a ser recuperado na íntegra, num trabalho exemplar, desenvolvido por uma equipa multidisciplinar, que mostra ao público aquilo que se pretende para este valioso conjunto arquitetónico.
A obra de requalificação da Casa da Água do Cabo Espichel foi apresentada publicamente no dia 20 de maio. O acontecimento,testemunhado por dezenas de pessoas, incluiu uma visita ao edifício, restaurado pela Câmara Municipal de Sesimbra, que voltou a dar a dignidade àquele que é um dos símbolos do Santuário.
«Agradeço a todos os que contribuíram para esta grande intervenção», referiu o presidente da autarquia, Augusto Pólvora, após o descerramento da placa alusiva à obra, juntamente com a presidente da Assembleia Municipal, Odete Graça.
A satisfação pelo trabalho realizado no edifício foi igualmente partilhada pela vice-presidente da autarquia, Felícia Costa, que depois de agradecer aos que se envolveram no restauro e à família de António Xavier de Lima, que passou o edifício para a posse do município em 2008, vincou a vontade em continuar a recuperar o edificado do Santuário. «Estamos perante uma magnífica obra de restauro. Esperamos que este seja o primeiro momento de uma recuperação mais abrangente, que será possível quando a ala norte, que atualmente é propriedade do Estado, passe para a posse da autarquia, no âmbito do acordo com a Direção-geral do Tesouro e das Finanças», afirmou, lembrando que este objetivo surge na sequência da estratégia de valorização do património, que já permitiu revitalizar outros espaços emblemáticos no concelho, entre os quais a Fortaleza de Santiago e a Moagem de Sampaio.
A excelência da intervenção foi também reconhecida por Heitor Pato, investigador e especialista no Cabo Espichel, que colaborou no processo de restauro, e que fez uma contextualização histórica, religiosa e civil do edifício. «É um trabalho de recuperação notável de um local cheio de história que se encontrava bastante danificado», disse. A Casa da Água foi mandada construir por D. José em 1770, depois de visitar o Santuário durante uma romaria do círio da Ajuda, ao qual pertencia. «A alameda, as janelas, que serviam de conversadeiras, e também para os namoriscos, a escadaria, o edifício, tudo isto é arquitetura aristocrática, de corte. Do muro para lá havia a horta, construída depois do aqueduto e da Casa da Água, que simbolizava a parte rural, onde existia uma horta com alecrim e ervas de cheiro», frisou.
As caraterísticas da obra foram, por seu turno, explicadas por Armindo Pombo, arquiteto da Câmara Municipal responsável pelos trabalhos de restauro. «A recuperação da Casa da Água foi um trabalho complexo porque o edifício estava muito degradado, nomeadamente as cornijas, cantarias, frisos, abóbada, que foi objeto de um tratamento especial, e sobretudo o pequeno zimbório, que se pensa ter ruído na sequência do sismo de 1858, e que foi possível reconstituir na sua morfologia original por termos encontrado duas peças de cantaria aparelhadas no recinto durante os trabalhos da primeira fase», sublinhou.
A apresentação da obra incluiu a visita à Casa da Água, onde Heitor Pato explicou os temas representados nos azulejos, parte dos quais ainda visíveis, «que simbolizavam cenas de caça, corte e festa», e uma exposição sobre a história e o processo de recuperação do edifício.