Barbara Furtuna no Cineteatro Municipal
Barbara Furtuna é um agrupamento vocal formado em 2001, composto de quatro homens. Originalmente, os cantores que o compõem construíram a sua arte vocal desde jovens, em diferentes formações insulares, adquirindo uma prática polifónica velha de vários séculos.
Se o grupo recolhe a sua inspiração da tradição mais profunda é pelas suas criações contemporâneas que se distingue nos dias de hoje ao apresentar uma arte sabiamente aperfeiçoada no decorrer dos caminhos musicais recolhidos, com uma pesquisa harmónica nova.
Este percurso, através de facetas diferentes do canto insular é, alternadamente, intimista e poderoso, sensual e viril. Os cantores oferecem-nos um repertório profundamente enraizado numa terra fonte de inspiração, mas também resolutamente virada para este século que se inicia, uma tradição sempre em movimento, recusando deixar-se aprisionar.
A audição apoia-se no Sagrado, indissociável da polifonia corsa, no qual o desfecho e a sinceridade tocam naquilo que temos de mais íntimo, para procurar no caminho dos cantos uma ligeireza e uma frescura inéditas. Mesmo se a emoção está presente ao longo de toda esta viagem musical, esta desdobra-se numa multiplicidade de sentimentos e é com muita felicidade que saímos desta experiência.
Os quatro cantores, Jean Pierre Marchetti (terza), André Dominici (bassu), Jean Phillipe Guissani (bassu, contracantu) e Maxime Merlandi (seconda), souberam contar a sua história e fazer-nos vibrar ao longo de todo o recital, partilhando a sua aventura humana que, por vezes, despertam em nós sensações esquecida.
Polifonias Corsas
O canto polifónico insular tem as suas raízes no mais profundo da sociedade agro-pastoril, existente na ilha depois de séculos. Desde o início que os habitantes da Córsega se refugiam nas montanhas para fugir aos rios infestados de malária ou à “razzia” dos mouros e outras invasões.
Eles cultivam a sua identidade enriquecida por numerosas influências exteriores, tendo a ilha sido alternadamente grega, romana, cartaginesa, aragonesa, genovesa, pisana, etc...
A implantação franciscana, muito marcada na Córsega como testemunham os numerosos edifícios desta Ordem, transmitem uma influência culta aos cantos pré-existentes, contribuindo para originar esta mistura inédita do sagrado e do profano.
O canto torna-se comunitário e, muito naturalmente, polifónico e adquire uma forma social. Todos os membros da comunidade identificam-se claramente com este canto. Cantos de trabalho, acompanhando os duros trabalhos agrícolas, gritados ao ritmo dos passos do animal de tiro, canções de berço ou o vozear das mulheres que se ocupam dos trabalhos domésticos.
O ritual cristão tem um lugar importante graças à constituição de confrarias. A missa é cantada pelos homens, com uma época forte na Páscoa quando é celebrada a paixão de Cristo.
A prática destes cantos é por um lado comunitária e muito pessoal. Podemos dizer que as melodias (versi) não se diferenciam de uma aldeia para a outra, ou de um individuo para outro.
Esta prática vocal, se persiste até aos nossos dias, conheceu o seu declínio depois da primeira guerra mundial, uma verdadeira hemorragia humana na ilha.
As confrarias foram dissolvidas por falta de membros. A chegada progressiva do harmónio vem substituir os cantos polifónicos. Por fim, após a adopção pelo Vaticano II, no início dos anos sessenta, o canto em latim desaparece pouco a pouco das igrejas e, com ele, toda a riqueza e variedade dos cantos sagrados praticados durante séculos. Só um sobressalto no fim dos anos setenta permitirá salvar uma parte deste património.
• Bilhete: € 7.5