Estudo da pintura Nossa Senhora da Misericórdia vence Prémio Científico
O lançamento do livro Descobrindo o Manto: Decifrando a Paleta e a Técnica do Pintor Gregório Lopes com um Estudo Sobre a Pintura “Mater Misericordiae” de Sesimbra, vencedor do Prémio Científico Sesimbra, realizou-se no dia 17 de novembro, na Fortaleza de Santiago. O estudo foi realizado por uma equipa multidisciplinar ao longo de cerca de um ano, durante a intervenção de conservação e restauro do painel, que teve início em 2014, no âmbito das comemorações dos dez anos da reabertura da Capela e do Hospital do Espírito Santo dos Mareantes.
A cerimónia contou com a presença de Felícia Costa, vice-presidente da Câmara Municipal de Sesimbra, Vanessa Antunes e Marta Manso, autoras do trabalho vencedor, Paulo Oliveira, professor universitário e representante do Júri do Prémio Científico, e Aleixo Terra-da-Motta, membro do Turifórum, grupo informal de empresários da área do turismo, parceiro na organização da iniciativa desde o seu início.
«É com um grande prazer e felicidade que aqui estamos para receber este prémio e é um orgulho enorme podermos saber mais sobre esta pintura. É sem dúvida uma obra única que marca o percurso de um pintor mas também de uma sociedade, por isso merece toda a nossa atenção e carinho», expressou Vanessa Antunes, investigadora do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
«Entendemos que uma obra desta natureza merecia mais que uma caraterização material e por isso fomos mais longe e reunimos uma equipa constituída pelo Laboratório José de Figueiredo, Instituto de História da Arte, Laboratório HERCULES, Centro de Estudos Florestais, Faculdade de Belas-Artes, Santa Casa da Misericórdia e Câmara Municipal de Sesimbra», disse Marta Manso, investigadora do Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física das Radiações (LIBPhys) da Universidade Nova de Lisboa. Ao longo da investigação, foram confirmadas várias caraterísticas e técnicas o pintor, mas também foram desvendadas algumas novidades. No caso da pigmentação foi descoberto um novo tipo de polimento, que torna a carnação mais transparente e mais humanizada, «uma caraterística do pintor que não foi detetada em mais nenhuma obra», revelou Vanessa Antunes. A investigadora garantiu que o painel Nossa Senhora da Misericórdia «para além de esteticamente também fisicamente é uma mais-valia e um grande tesouro que merece ser preservado».
Na sua intervenção, Felícia Costa afirmou que se trata de uma quadro magnífico do mestre Gregório Lopes e uma obra muito importante para Sesimbra». Para a autarca, a entrega do prémio reconhece «o mérito e a excelência» do estudo. Felícia Costa lembrou ainda os dois principais objetivos do galardão, que são «chamar a atenção para o território do concelho de Sesimbra e para as suas múltiplas vertentes». A autarca deixou um agradecimento especial à Santa Casa da Misericórdia por ter cedido para empréstimo a pintura ao Museu Municipal de Sesimbra, a Aleixo Terra da Mota, membro do Turiforum, que considerou um dos grandes responsáveis pelo lançamento do Prémio Científico Sesimbra, e ao Comité de Conselheiros do Júri, «um grupo de académicos de reputado e indiscutível valor», que tem sido uma parceria muito importante para a Câmara Municipal. «É cada vez mais fundamental que aqueles que têm responsabilidade local de gerir e desenvolver os seus territórios possam ter como aliados na definição das suas ações e estratégias o saber das universidades», frisou.
Paulo Oliveira, representante do Júri, reconheceu tratar-se de «um trabalho de investigação com bastante interesse, muito apurado e quase inovador em Portugal. É um estudo com aplicação de diversas técnicas de análise que permitiram conhecer com rigor os pigmentos das tintas usadas, os cambiantes das cores, a sua técnica de aplicação, a metodologia utilizada no desenvolvimento da pintura, com detalhe para as técnicas de transposição de desenhos bem como a identificação das restrições criativas na cópia dos retratos principais das principais figuras da composição», descreveu, acrescentando tratar-se de «um grande contributo para conhecer Gregório Lopes e acima de tudo a pintura maneirista portuguesa».
Para Aleixo Terra da Motta, «o Prémio Científico Sesimbra só vale se houver investigadores, como a Vanessa Antunes e a Marta Manso. Sentimo-nos imensamente gratos pelo vosso esforço e trabalho e por terem contribuído para nos conhecermos melhor». Aleixo Terra-da-Motta elogiou ainda o empenho da Câmara Municipal na continuação do Prémio e agradeceu «a generosidade e disponibilidade» do Júri.