INAUGURAÇÃO: Núcleo da Pedreira do Avelino
Galopim de Carvalho aproveitou a ocasião para sugerir à Câmara Municipal que musealize também a Gesseira de Santana e o Porto do Concelho. «A maior parte das pessoas não sabe que o Rio Tejo não saía em Lisboa, mas algures entre a Arrábida e Cacilhas, numa baixa que está hoje materializada na Lagoa de Albufeira. No local há um conglomerado, uma rocha formada por calhaus agarrados uns aos outros, vindas da Serra de Sintra», explicou, acrescentado que se trata «talvez dos monumentos mais importantes em termos de património geológico que temos em Portugal».
Augusto Pólvora explicou que este foi um processo com um historial longo. «Pensámos que seria rápido o passo seguinte mas na verdade demorou mais de 20 anos, resultado de diversas dificuldades», afirmou.
«A musealização da Pedreira do Avelino é apenas um dos elementos da nossa estratégia de preservação, valorização e divulgação deste património, que pretendemos continuar a desenvolver», garantiu o presidente da Câmara Municipal, que anunciou que «a autarquia vai apresentar brevemente um Geocurcuito, que dá a conhecer um conjunto de recursos naturais», entre eles as duas referências feitas pelo professor Galopim de Carvalho.
Dos sete monumentos naturais classificados, seis são jazidas de icnofósseis e três estão localizadas em Sesimbra, «o que só por si é um cartaz fundamental não só do ponto de vista cultural mas também turístico»,frisou.
Sousa Dias, diretor do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa enalteceu o trabalho da autarquia neste campo: «o município Sesimbra tem mostrado um interesse e uma persistência notável na valorização cultural e económica das riquezas naturais do concelho que nos enche de grande satisfação e esperança».
No final Paulo Caetano, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e Vanda Santos, coordenadora do Departamento de Mineralogia, Geologia e Paleontologia do Museu Nacional de História Natural e da Ciências, que trabalharam na musealização do local, explicaram todos os pormenores do projeto, que permitiu tornar o espaço acessível a todos os visitantes, incluindo cidadãos com mobilidade reduzida.
Caraterização
A jazida foi identificada em finais da década de 80 do século passado, e classificada como monumento nacional em 1997. Em 2011, a Câmara Municipal de Sesimbra apresentou uma candidatura a fundos comunitários do Programa de Desenvolvimento Rural, através da Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal, para a valorização e interpretação do local.
A jazida apresenta uma laje com 10 metros de largura por 15 metros de comprimento, onde se encontra registado um conjunto de dezenas de pegadas com mais de 150 milhões de anos, distribuídas por cinco pistas de diversos herbívoros quadrúpedes, de longa cauda e pescoço comprido.
Visitas
A Jazida pode ser visitada todos os dias de forma gratuita, individualmente, em família, ou pelas crianças até ao 3.º ciclo, no âmbito dos Serviços e Projetos Educativos.
No local foi instalada uma plataforma para observação das pegadas e painéis informativos e de interpretação do sítio, que ajudam a conhecer a época em que viveram, curiosidades e caraterísticas dos dinossáurios.
Um pouco de história
A descoberta de pegadas de dinossáurios na Pedreira do Avelino, nos anos 80 do século XX, ocorreu durante os trabalhos de extração de calcários compactos explorados em toda a região do Zambujal com vista à sua utilização industrial, na produção de brita e pedra de cantaria.
As pistas estão preservadas numa superfície que há cerca de 155 milhões de anos (Ma) era o fundo lamacento da margem de uma laguna litoral com tendência para água doce.
As linhas de água que nesses tempos existiam no local transportavam pouca água, favorecendo a deposição de sedimentos que acabavam por obstruir a abertura que permitia a comunicação da lagoa com o mar. Nestes ambientes muito calmos, após a passagem dos dinossáurios, depositaram-se sedimentos em novas camadas, inicialmente em posição horizontal.
As forças tectónicas compressivas que, muitos milhões de anos depois foram responsáveis pelo levantamento da Serra da Arrábida, dobraram e fraturaram as camadas sedimentares.
Este longo processo geológico, juntamente com a atividade da pedreira que aqui laborou no séc. XX, permitiu que as antigas superfícies por onde passaram os dinossáurios ficassem de novo a descoberto.
Localização
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