MEMÓRIA E IDENTIDADE: Visita às Lojas de Companha
A iniciativa, inserida no projeto Sesimbra: Memória e Identidade, cujos objetivos passam pela recolha e salvaguarda do património cultural imaterial do concelho, reuniu uma dezena de participantes e começou na Loja de Companha da traineira Princesa do Mar.
Francisco Mário, mestre de terra da embarcação, explicou como esta vertente da pesca é essencial na preparação de uma saída para o mar. «Somos um todo, há os que vão para o mar e os que ficam em terra, mas todos somos necessários». Preparar o pano, as cortiças, os chumbos, as aranhas e outros aparelhos necessários na largada da rede para capturar o peixe são, a par do coser das redes, algumas das tarefas dos marítimos de terra.
José João, 76 anos, antigo mestre e remendador de redes desde os 8, garantiu que sem a colaboração dos pescadores que ficam em terra as coisas não funcionavam. «As redes chegam da arte, muitas das vezes bastante danificadas e se não houvesse quem as reparasse teriam de ser substituídas, o que iria implicar um custo acrescido para os barcos e a indústria não é assim tão rentável», esclareceu.
Mas a Loja de Companha, que se constitui como a fase preparatória de uma nova saída para a pesca, já teve outras funções. «Antigamente estes locais serviam também de casa aos “moços chamadores”», adiantou Artur, armador da embarcação Céu da Glória, no decorrer da visita à sua loja de companha.
«Eu, como tantos outros, cheguei a dormir na loja do meu pai. Estes espaços, que podiam ser casas alugadas ou barracões junto à praia, serviram de domicílio aos rapazes que durante o dia preparavam aparelhos e reparavam apetrechos para as viagens de mar e que à noite tinham, ainda, a obrigação de chamar os pescadores para mais uma partida», contou Manuel Xoxinha, armador e antigo pescador.
«E até as habituais caldeiradas que marcavam a vida das lojas de companha foram perdendo tradição. Hoje os pescadores preferem assinalar certas datas festivas com a ida a um restaurante local. Dá menos trabalho e não sobra sempre para os mesmos a preparação da caldeira. Acho que por isto e porque os tempos também mudam que a malta deixou de fazer caldeiradas nas lojas de companha», realçou o "velho do mar".
Para finalizar a visita os participantes tiveram a oportunidade de ver como se preparam certos apetrechos. Na Loja de Companha do barco Parma, dedicado à captura do Espadarte, Francisco Cação, mestre de terra, desvendou alguns dos passos da arte do aparelho que começa na loja de companha, com a preparação da caçada, passando pela captura do peixe que decorre 4 a 5 vezes por ano em viagens de 15 a 20 dias, até à sua venda em diferentes portos do mundo.