Regata de Aiolas, tradição com quase 80 anos
Quando na década de 40 um grupo de pescadores de Sesimbra, a bordo de uma pequena embarcação de pesca, venceu uma regata inserida na Tarde Náutica Infante D. Henriques, em Lisboa, estava longe de imaginar que o acontecimento iria transformar-se numa das provas desportivas mais populares da vila, e mais originais de Portugal. Quase 80 anos depois, no início do outono, a história repete-se e os participantes são cada vez mais.
A prova tem a particularidade de ser disputada em embarcações típicas a remos, utilizadas na pesca, conhecidas como Aiolas. É feita por duplas, normalmente masculinas, embora nos últimos anos tenham aparecido várias duplas mistas e mesmo femininas. Apesar de ser encarada como uma competição entre amigos é habitual observar-se no mar, nas semanas anteriores, as equipas de remadores em preparação, uma vez que a Regata exige bastante em termos físicos.
Não perca, este domingo, dia 27 de setembro, às 11 horas, na Baía de Sesimbra.
A Aiola de Sesimbra:
A aiola é uma pequena embarcação em madeira feita por carpinteiros navais sesimbrenses, que geralmente mede entre os três e os quatro metros de comprimento, por um metro e meio de largo.
Tem em regra, dois bancos enquadrados com quatro chumaceiras, que lhe permite ser movida por quatro remos. Nas mais antigas ainda é possível encontrar uma pequena reentrância no painel de popa, que servia para zingar, um movimento exercido por um pescador com apenas um remo, que funcionava como um hélice. Outra das suas caraterísticas era o facto de poder ser movida à vela, mas com o aparecimento do motor, tanto a vela como o zingar caíram em desuso.
Embarcação, robusta e com excelentes qualidades de navegação, a aiola serviu durante muito tempo de apoio a várias artes de pesca e também na pesca turística ao espadarte, e, mesmo apesar das suas reduzidas dimensões, mostrou estar sempre à altura das exigências, devido à sua estabilidade e segurança. Hoje, é sobretudo utilizada na pesca artesanal junto à costa, tanto por profissionais do palangre e toneira, como por pescadores aposentados e descendentes destes, para fins lúdicos, na pesca à linha e toneira, que assim garantem a manutenção deste património. Continua também a ser utilizada na arte xávega na Baía de Sesimbra.
Por servirem de auxiliares a barcos de pesca eram geralmente pintadas com as cores dos mesmos, o que ainda hoje é possível observar no porto de abrigo. Quando estão à pesca em frente à Baía, as suas cores reforçam ainda mais a beleza de Sesimbra, ajudando a compor um quadro imortalizado em fotografias, telas, e principalmente na memória de sesimbrenses e visitantes. Outro dos traços caraterísticos são os símbolos talhados ou pintados na proa, que tanto podem ser uma estrela, uma lua ou um olho de peixe.
Porém, atualmente o seu número não deve ultrapassar as quatro dezenas, uma realidade preocupante para o futuro deste verdadeiro património sesimbrense, se não forem tomadas medidas que garantam a sua preservação. A continuidade da Regata de Aiolas, que se realiza anualmente em setembro, e a sua integração nos valores da candidatura da Arrábida a Património Mundial são, em conjunto com o empenho dos atuais e antigos pescadores locais, alguns contributos que podem ajudar a manter viva a aiola e algumas tradições a ela associadas.