Saboroso, estaladiço e irresistível. Bem-vindos ao pão!

A meio da Rua da Fé algumas pessoas aguardam pacientemente numa pequena fila para comprar pão. Uma imagem que faz parte do nosso verão.
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Sente-se o aroma a pão quente acabadinho de sair do forno, e esta é uma das razões que as traz até aqui. Afinal, todas querem carcaças quentinhas para o pequeno-almoço.
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Clara e Beatriz, de Alcochete, não escondem a satisfação ao sair da padaria com o pão quente e umas caixas com bolos.
Contrariamente a outras filas com que se depara regularmente no seu quotidiano, Clara, que também costuma vir aos fins-de-semana durante o ano, não se importa de aguardar porque, afiança «tenho a certeza de que esta curta espera vai compensar daqui a alguns minutos». E explica porquê. «Este pão é irresistível, ainda mais com manteiguinha a derreter», afirma.
A mesma opinião em relação ao pão do Gá tem Tiago Julien, de França, que vem passar férias para Sesimbra, há mais de 35 anos. «São tão saborosas que chego a comer três ao pequeno-almoço», diz. Certamente para matar a saudade, porque no resto do ano está muito longe.
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São quase nove e meia da manhã, a azáfama junto ao balcão é intensa tal como na área de fabrico, onde os padeiros arrumam e fazem as últimas limpezas, visivelmente cansados depois de uma noite intensa de trabalho, com a agravante de ser das mais quentes do ano.
Do forno continuam a sair, intervaladas por períodos de 5 ou 6 minutos, sucessivas fornadas dos tão apreciados pãezinhos.
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Mas há quem prefira horas mais calmas. Maria Luísa, de Braga, que passa férias em Sesimbra há seis anos, toma o pequeno-almoço no hotel onde está hospedada e escolhe o final da tarde para ir à padaria. «Descobri este local casualmente, há alguns anos, ao passear pelas ruas antigas. Desde então, venho sempre que posso. E como sei que cozem pão durante a tarde, consigo comprá-lo ainda quente para o lanche. Além do mais, o sabor e textura são inconfundíveis. Muito bom», afirma.
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«O trunfo é não alterar a receita e a maneira de fazer pão. Aliás, muitos clientes pedem-nos para não mudarmos»», afirma José Manuel Macedo, proprietário da padaria há 41 anos, que faz uma revelação curiosa. «O pão tem um tempo de vida a partir do momento em que fazemos a massa. Por isso temos de perceber quando está pronto para ir ao forno». O empresário acrescenta que há clientes que no dia de regresso a casa chegam a levar 80 e às 100 carcaças para congelar e descongelar à medida que vão comendo». Para além do pão, parte da clientela não resiste a levar uns bolos e as escolhas de verão são, inquestionavelmente, as Bolas de Berlim. «São feitas à maneira antiga. Claro que dá mais trabalho, a massa tem mais tempo de espera e torna-se menos rentável. Mas o que interessa é que produto final tem mais qualidade e satisfaz os clientes», assegura.
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Na zona nascente da vila, mais concretamente no Largo Eusébio Leão, o cenário para comprar pão e bolos é idêntico à porta da padaria A Camponesa. Entre os fregueses contam-se vários sesimbrenses, clientes de todo o país e alguns estrangeiros, como um casal de alemães que, como facilmente se percebe pela reação de surpresa, acabou de descobrir a padaria.
Para muitos dos presentes, sobretudo quem vem de fora, comprar o pão n´A Camponesa tornou-se quase um ritual imprescindível nas férias e fins-de-semana.
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«Este pão é único e especial e, para mim, esta padaria é e será sempre o Joaquim do Moinho, porque faz parte do meu imaginário. É por este nome que a conheço há mais de 60 anos, quase tantos quantos tenho de vida». Quem o diz é Isabel Ribeiro, lisbonense de nascimento, mas «sesimbrense de coração», como faz questão de frisar, acrescentando que considera a Camponesa «uma verdadeira instituição de Sesimbra porque é bastante conhecida fora de portas».
Ao reconhecimento da importância desta padaria na sua vida, destaca a longa e feliz ligação à “Piscosa”, onde aprendeu a nadar, fez uma vasta legião de amigos para toda a vida, e sempre encontrou a tranquilidade de que precisava.
Mas enfatiza que «neste momento a prioridade é comprar pão para a família, incluindo para os mais novos. É para os habituar ao sabor único deste pão».
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Opinião partilhada por Maria Manuel, que também é de Lisboa e costuma passar por cá nas férias. «Venho aqui há mais de 30 anos porque gosto muito deste pão delicioso que, sabemos, é feito de forma artesanal», nota. «E gostamos também muito das Tortas de Chocolate», acrescentam os netos.
«Os nossos clientes, sejam de fora, ou de Sesimbra, sentem-se acarinhados nesta casa. Muitos dizem-nos que nos escolhem pela qualidade dos produtos, mas também pela simpatia, o que é muito compensador», diz Ana Sousa, que assegura a continuidade do negócio da família.
O investimento na qualidade acaba por dar os frutos pretendidos «porque alguns dos que vêm pela primeira vez dizem que foram recomendados por amigos que provaram e adoraram o pão, os bolos e os salgados. Temos até clientes de Vila Viçosa, Peso da Régua e de outros pontos do país que pedem que enviemos o pão pelo correio para as suas casas. E já conhecem a nossa Farinha Torrada. É o passa-palavra que nos dá mais força para continuarmos», reforça.
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Negócios ou, neste caso, pão à parte, José Manuel e Ana Sousa são velhos amigos, como ambos fazem questão de destacar. «Tenho uma enorme estima e gratidão pela Ana e por toda a família. O seu pai, sr. Arménio, foi um segundo pai para mim. Foi com ele que aprendi a profissão de padeiro e ainda hoje somos grandes amigos», afiança o responsável do Gá.
O sentimento é recíproco. «Para nós, o “Zé Manel” é um membro da família. Não somos rivais, somos amigos e colegas de trabalho. Ambos sabemos que esta é a forma correta de estar na vida», salienta Ana Sousa. «É um profissional excecional com quem podemos contar».
E reforça esta ideia com uma afirmação. «Se, por exemplo, algum de nós tiver um problema com o forno que impeça de cozer o pão, o outro está de portas abertas para ajudar», ressalvando também o «excelente relacionamento com o sr. Diniz, da padaria O Caseiro».
São exemplos como estes, de saudável concorrência e respeito, que estão tantas vezes na base do sucesso das empresas. E assim todos lucram, mesmo aqueles que, sem o saber, todos os dias ou nas férias, renovam o prazer de apreciar o pão e os bolos das padarias e pastelarias sesimbrenses, como estes dois estabelecimentos, que são, inquestionavelmente, referências de Sesimbra.