SEMINÁRIO: Sesimbra e o Mar, Uma Pluralidade de Olhares
Na abertura do evento, organizado pela Câmara Municipal de Sesimbra, em parceria com o grupo Pós-MARGov, o presidente da autarquia, Augusto Pólvora, afirmou que «o mar tem um peso bastante importante e uma terra com as caraterísticas de Sesimbra tem de ter uma palavra a dizer nesta matéria». Atualmente, a economia do mar envolve mais de cem mil empregos, «embora a pesca, infelizmente, já não represente a maioria», revelou.
Em relação aos temas apresentados no programa, destacou os assuntos relacionados com o concelho, entre eles a candidatura ao PROMAR para instalar o Museu do Mar, «o objetivo central da requalificação da Fortaleza de Santiago, que vai estar pronta em fevereiro», e para melhorar as condições do setor do peixe no Mercado Municipal, «porque entendemos ser um dos principais cartazes de apresentação do nosso peixe», e o conceito Sesimbra é Peixe, apresentado ao público no verão, e que resulta de um trabalho de parceria a nível local, neste caso com o Turifórum. «É um conceito que consegue conjugar de uma forma única as duas principais atividades do concelho, a pesca e o turismo, e que tem como objetivo transformar «Sesimbra na capital do peixe em Portugal».
Augusto Pólvora terminou com o desejo de ver feita a revisão do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida. «Ainda há um grande ceticismo da pesca e das atividades náuticas em relação às vantagens da criação do Parque Marinho, por isso é urgente saber se todas as medidas incluídas se justificam».
Para Lia Vasconcelos, coordenadora do projeto Pós-MARGov, o seminário foi «uma continuidade daquilo que tem sido solicitado pela comunidade, e que são os olhares dos cientistas». Segundo Lia Vasconcelos, «os cientistas não podem continuar a viver nas suas cápsulas, têm de dar a conhecer ao público em geral o que andam a fazer».
Odete Graça, presidente da Assembleia Municipal de Sesimbra, também esteve presente na mesa de abertura. A autarca frisou a importância da participação do público nas iniciativas que acontecem ao seu redor, e que trazem «um valor acrescido de conhecimento», e a «necessidade de se tratar bem o mar para que possa ser usufruído nas suas várias vertentes».
O painel de oradores abriu com a apresentação do Projeto de Valorização do Património Piscatório de Sesimbra: Instalação do Museu do Mar e da Pesca, por João Ventura, técnico da Câmara Municipal de Sesimbra na área do património, e que deu a conhecer o projeto que está a ser trabalhado para o Museu, muito assente na noção de regeneração urbana, e que pretende transformar a Fortaleza de Santiago no elemento central da vila. «Este museu não cumprirá o seu objetivo se não contemplar a melhoria da qualidade de vida na área urbana, promover a coesão, a identidade da comunidade em relação àquilo que está nestes espaços e possibilite também a diversificação da economia em benefício da comunidade», explicou. A forma de trabalho que transformou a Moagem de Sampaio num polo dinâmico vai ser seguida para o museu, que também vai ter a particularidade de funcionar em estreita ligação com o mercado municipal. «Sesimbra tem comprovadamente uma relevância interessantíssima no desenvolvimento das artes de pesca, mas não é referenciada nos encontros promovidos internacionalmente sobre a temática. Mudar isto vai ser também um dos desafios do novo museu», garantiu.
Jonas Cardoso, assessor da Câmara Municipal para o Turismo, contou como surgiu o conceito Sesimbra é Peixe, e qual o rumo da campanha. «O Sesimbra é Peixe está em cada um de nós, que nascemos, vivemos e amamos esta terra», simplificou. Jonas Cardoso defende que este conceito tem de ser integrado por todos. «Vamos impregnarmo-nos com Sesimbra é Peixe e promover esta terra maravilhosa».
A manhã foi ainda preenchida pelas apresentações MARGov: Um Percurso Coletivo, por parte de Lia Vasconcelos, que explicou, em traços gerais, o que consistiu o projeto e como foi desenvolvido, e a Erosão Costeira da Arrábida, pelo Clube da Arrábida, que se centrou nas grandes transformações que o Portinho tem sofrido nos últimos anos.
Carina Reis, da Associação de Armadores de Pesca Artesanal e Local do Centro e Sul – Sesimbra, abordou os desafios da pesca, sobretudo os elevados custos burocráticos, uma consequência da excessiva legislação exigida ao setor, e apresentou o Cabaz do Peixe, um projeto semelhante ao PROVE, que partiu da Liga para a Protecção da Natureza.
O Cabaz do Peixe vai ser composto por quatro quilos de peixe variado e terá um custo de 20 euros. «A ideia é compor o cabaz com peixe conhecido e apreciado, mas também com outros não tão familiares para o consumidor, como a boga ou a salema, para evitar as rejeições e valorizar as espécies», admitiu.
Segundo Carina Reis, o Cabaz do Peixe vai trazer vantagens para o consumidor, que vai adquirir peixe de qualidade, para o ambiente, pois vai contribuir para diminuir as rejeições, e para os pescadores, que vão ver os seus rendimentos aumentar. «Como não conseguimos contornar a primeira venda, vamos ao leilão, compramos o peixe aos nossos associados e por um valor mais alto», explicou, esclarecendo que se trata de uma «alternativa à comercialização». Para conseguir implementar este projeto, a associação apresentou uma candidatura ao PROMAR, que está neste momento em fase de análise.
O projeto MAIA: Pesca e Conservação no Parque Marinho Luiz Saldanha, por Yorgos Stratoudakis, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, Padrões de Utilização das Praias entre a Figueirinha e Sesimbra, por Ricardo Mendes, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Turismo Náutico: Conceito e Afirmação Local, por José Saleiro, da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, e O Efeito das Medidas de Proteção e do Clima nas Comunidades de Peixes de Recife Rochoso do Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, por Bárbara Horta e Costa, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada & Centro de Ciências do Mar, foram os painéis apresentados durante a tarde.