Vai um peixinho grelhado?

O que podem ter em comum uma australiana e um alemão, radicados em Inglaterra, um casal espanhol e duas famílias portuguesas?
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A resposta pode bem ser: vieram comer peixe assado a Sesimbra e ficaram deliciados com sardinha, lula, choco e peixe-espada preto, que chegaram à mesa depois de passarem pelas mãos de experientes assadores. Eduardo Marques, o “Pintarola”, e José Carlos, conhecido por “Isaías”, são dois especialistas nesta matéria.
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As filas à porta da Tasca do Isaías são frequentes e espelham a fama que o estabelecimento ganhou dentro e fora de portas, ao longo de mais de cinco décadas. Quem o conhece já sabe ao que vem, e está habituado a que o peixe seja sempre fresco e quando sai da grelha está, como se diz, “no ponto”. Os que chegam pela primeira vez são surpreendidos com o que encontram.
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Foi o que aconteceu em meados de agosto com o casal Quinn, que veio de Inglaterra. Volker é alemão e Annette é australiana. Estavam à porta do estabelecimento ainda não eram 11 horas, só para ver o peixe.
«Quando pensámos vir de férias fomos pesquisar na internet o que haveria para visitar na zona de Lisboa e da Arrábida. Encontrámos Sesimbra e, ao pesquisarmos restaurantes apareceu de imediato a Tasca do Isaías com boas referências», afirmam claramente satisfeitos pois, desde que chegaram, já lá foram jantar duas vezes.
«It´s genuine», exclamam em uníssono. «Voltamos hoje à noite para comer sardinhas, que adoro», diz Volker. Annette está mais inclinada para escolher lulas.
Quem também ficou rendido ao peixe assado no carvão foi o casal Alicia e David, de Madrid, Espanha. Descobriram Sesimbra e o Isaías por acaso, e dizem que acertaram na “mouche”.
«Estamos hospedados num hotel na Costa da Caparica, e como o dia estava nublado decidimos vir dar um passeio até esta zona que desconhecíamos. Fomos primeiro ao Cabo Espichel, que é espetacular, e depois viemos almoçar a Sesimbra. Ao passarmos pelas ruas, o aroma do peixe aguçou-nos o apetite e vimos que havia muita gente aqui à espera. Achámos que seria um lugar simpático e decidimos ficar. O que podemos dizer é que foi uma experiência muito boa. O peixe estava ótimo, tem muita qualidade, e o preço é simpático. É um lugar autêntico. Tudo muito bom», concluem.
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- O cheiro a peixe grelhado, ou peixe assado, como é comum dizer-se em Sesimbra, sente-se pela rua. Uns metros abaixo o grelhador do restaurante “Pintarola” está a todo o vapor. Ao cheiro a peixe assado junta-se a voz inconfundível de Eduardo Marques, que se destaca no burburinho. «Sai uma dose de sardinhas», diz.
De perto, sente-se bem o calor que irradia do grelhador. «Parece que acendi o lume há pouco, mas a verdade é que comecei a fazer o lume antes das 10 horas porque, para ter um braseiro como deve ser, tem de ser assim, para não incendiar e queimar o peixe», afirma.
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Um pequeno segredo de quem trata o grelhador por “tu” há mais de 30 anos e que, em 2017, orientou o workshop Assar Peixe em Carvão, promovido pelo Posto de Turismo de Sesimbra. «Abri o meu primeiro estabelecimento no dia 5 de julho de 1991», conta.
Estar à grelha é muito exigente e chega a esgotar a paciência. «Quem julga que é fácil que meta aqui a cabeça para ver como é ficar como eu, todo queimadinho», atira em tom de brincadeira, aludindo ao calor proveniente do grelhador. «Às vezes estou tão cansado que tenho de me abstrair do barulho à volta porque não tenho paciência para nada», diz, acrescentando em tom bem-humorado que «a parte mais fixe de estar à brasa é que o peixe não fala para me dar mais cabo do juízo».
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- O peixe, esse, começou a ser preparado bem cedo pelo seu filho, Hernâni, que segue as pisadas do pai, mas evita estar à grelha. «Levanto-me todos os dias muito cedo para ir buscar o peixe a amanhá-lo. Com água salgada», nota.
Na cozinha, a mãe, Tété, como todos a conhecem, e o restante pessoal preparam as sobremesas, partem o pão caseiro, cozem os legumes, lavam e preparam as saladas para que nada falhe. É como uma máquina bem afinada onde tudo tem de funcionar em conjunto. Afinal, a clientela é fiel e alguns já são “habitués” há vinte e trinta anos.
- É o caso de João Guilherme que, com 65 anos, é cliente do Pintarola há mais de três décadas. «Quando vim pela primeira vez ao seu restaurante, ainda era ali à frente da praça. Desde então, venho com regularidade e quase sempre como peixe grelhado», afirma.
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- Mais novo na “família” é Rui Conceição, de Alverca. Venho ao Pintarola há mais de cinco anos, não só nas férias, mas também noutras alturas do ano», diz. O seu peixe preferido é o espadarte, mas hoje vai escolher sardinhas ou peixe-espada preto.
Sentou-se pouco depois das 11.30 horas para reservar a sua mesa preferida. «Se viesse em cima da hora, teria de ficar muito tempo à espera porque sei que vem muita gente aqui», afirma.
Todos com quem falámos têm, pelo menos, uma coisa em comum: o gosto por Sesimbra, e pelo seu peixe assado. Por quem sabe!